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A qualidade do leite é uma questão mundial. Os consumidores demandam produtos com boa qualidade e para isso produtores e laticínios fazem ações para atenderem a essa demanda. Hoje em dia todos os consumidores possuem inúmeras ofertas de produtos e se as empresas não atenderem seus desejos os mesmos poderão adquirir outro produto.

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A qualidade do leite está diretamente relacionada com três áreas chaves, as quais chamamos rotina de ordenha. As três áreas nada mais são que: os animais (vacas), o ambiente onde estão alojados esses animais e o equipamento de ordenha. A interação desses três pontos forma o “Triangulo da Mastite”, e muitas vezes nos deparamos com dúvidas nesse assunto pois esquecemos de olhar as três áreas.
Para produção de leite com qualidade é necessária uma boa rotina de ordenha, entretanto, as pessoas deverão entender que as diferenças econômicas de região para região poderão influenciar nesse aspecto.

Um dos segredos para o sucesso é o entendimento de todos na fazenda, da importância da realização de rotinas de ordenhas padrões em todas as sessões. Muitos produtores e técnicos relatam que a sintonia se faz necessária para alcançar um bom nível de qualidade do produto produzido. Portanto para ter sucesso é importante primeiro entender que mudanças são necessárias, definir bem quais serão essas mudanças e deixar claro a todos os funcionários. Seguindo esses passos as chances de sucesso na implantação de rotinas de ordenha serão grandes.

Quando avaliamos uma fazenda de leite um dos fatores mais importantes a se observar é o padrão da rotina de ordenha e sua consistência. Essa deve ser preestabelecida e é de extrema importância que todos os funcionários sigam a mesma. Após essa avaliação e entendimento da rotina de ordenha, passamos a olhar o tempo das operações.

Estudos recentes tem claramente demonstrado que independentemente de qual região do país que a fazenda de leite se encontre os benefícios econômicos contemplam aqueles que possuem uma boa rotina de ordenha com tempo de ordenha correto.

Os estudos demonstram que o tempo ideal de espera entre o inicio da rotina de ordenha (pré-ordenha) até a colocação das unidades de ordenha é de 60 segundos. Em muitas fazendas existe uma variação no tempo de espera, o que está fortemente relacionado com quem realiza a ordenha e número de vacas que não tiveram uma descida de leite satisfatória antes da colocação do conjunto, esse último fenômeno também conhecido como sobre ordenha do início da ordenha.

Uma maneira rápida e fácil para se verificar se estamos com tempo de espera adequado entre a preparação dos tetos e a colocação dos conjuntos de ordenha, é observar os tetos. Se os mesmos estiverem repletos de leite será indicativo de que o estimulo e o tempo de espera estão adequados.

Se observamos tetos murchos sem a presença de leite, é indicativo que a estimulação e o tempo de espera não estão adequados, o que poderá acarretar em problemas sanitários no úbere e tempo de ordenha mais longo.

Um dos maiores desafios a se realizar numa fazenda de leite é o entendimento de todo pessoal envolvido em sua produção para aplicação de uma rotina de ordenha consistente, isso ocorre porque muitos dos funcionários de uma fazenda são advindos de outras fazendas e tem tendência de aplicar as mesmas rotinas do trabalho anterior. Não é raro observar numa mesma fazenda diferentes processo de rotinas de ordenha sendo empregados. Nesses casos a sugestão é observar o beneficio de cada processo e maximizar os mesmos para a fazenda, alcançando assim a melhor performance de ordenha e qualidade de leite.

A implantação de uma boa prática de ordenha deve iniciar pelo uso de luvas por parte dos funcionários, isso por que as mãos são fontes de contaminação principalmente do estafilococo aureus um dos principais patógenos causador de mastite. Usar luvas é importante, entretanto mantê-las limpas também, o ordenhador poderá utilizar um balde com água e sanitizante, mergulhar de tempo em tempo as mãos no balde ou até mesmo utilizar o esguicho de baixa pressão para limpar as luvas de tempo e tempo. Sendo assim é imprescindível estar com as luvas limpas para que possamos manter os níveis de risco de contaminação baixos.

Toda rotina de ordenha deve priorizar também uma devida sanitização dos tetos. Há diferentes maneiras de se realizar esse procedimento, entretanto a grande maioria dos produtores utiliza pré ordenha (Predip) para sanitizar os tetos. Predip é uma excelente estratégia para controlar bactérias ambientais e inclusive “e. aureus” que tem por características colonizar a pele da parede do teto. Portanto para alcançarmos sucesso nessa etapa duas coisas devem acontecer:

• A solução sanitizante do Predip deverá cobrir toda a superfície do teto que entrará em contato com a teteira durante a ordenha.
• Permanecer tempo suficiente para ser eficaz no seu propósito.

As recomendações geralmente estão na ordem de que 75 a 90% do teto seja coberto pela solução Predip por um tempo mínimo entre 20 a 30 segundos.

Uma forma simples e eficaz para medir a eficiência de cobertura do Predip é utilizar uma folha de papel toalha branco, enrolar em torno do teto e verificar no papel toalha o quanto está cobrindo e o quanto está faltando se for o caso. Não é por utilizar aplicadores que garantirá 100% de cobertura, contraprovas de tempo em tempo é uma boa forma de monitoramento.

Outro procedimento incluso nas rotinas e de maior desafio para sua correta implantação é a pratica de retirada dos três primeiros jatos de leite para avaliação. Estudos recentes sobre o tema, evidenciam que rebanhos onde se emprega essa prática apresentaram uma taxa de fluxo de leite melhor e menor tempo de ordenha. Em outras palavras, podemos demorar um pouco mais na preparação, pois o tempo será otimizado por um melhor estimulo.

Há várias evidências e relatos de que em rebanhos onde a prática dos três jatos de leite é realizada os resultados são: menor tempo de ordenha, CCS baixa e maior produção de leite. A prática dos três jatos de leite seria o primeiro passo a ser realizado antes ou logo após o Predip. Um dos argumentos para utilizar após o Predip é que o ordenhador poderá esparramar melhor a solução pelo teto, entretanto nunca realizar após secar os tetos devido ao risco de recontaminação e o tempo de espera ser encurtado.

Esse processo de limpeza, estimulação e secagem de teto são importantes. A secagem do teto com papel toalha auxilia na remoção da maioria das bactérias e promove uma estimulação extra. O segredo aqui é ter certeza que as pontas dos tetos estão secas e limpas pois se as pontas de tetos não tiverem bem secas e limpas provavelmente a fazenda sofrerá com casos ambientais de mastite. Muita das vezes, observamos o corpo do teto limpo, entretanto as pontas dos tetos com sujidades, o que é prejudicial. O score de ponta de tetos é uma das melhores ferramentas para avaliação do padrão da rotina de ordenha e sua qualidade.

Uma vez que os tetos se encontram limpos, secos e estimulados os conjuntos de ordenha deverão ser colocados nos animais com mínimo possível de ruído de entrada de ar entre as teteiras e o teto, quanto mais ar permitimos entrar maior será a irritação do úbere vindo a afetar a qualidade do leite. Após a apropriada colocação dos conjuntos de ordenha é praxe os ordenhadores alinharem os conjuntos de ordenha com o úbere do animal. Esse procedimento minimiza a queda das teteiras por deslizamento. A má performance na colocação dos conjuntos de ordenha é muito comum levando a um baixo desempenho na ordenha e deslizamentos contínuos das teteiras, sendo assim não importa o tipo de equipamento de ordenha que possui, o alinhamento de conjunto deverá funcionar como regra.

ordenha

Ao cessar o fluxo de leite dos conjuntos de ordenha os mesmos deverão ser retirados do animal. Muitas fazendas adotaram a tecnologia dos Extratores Automáticos de Teteira que gera muitos benefícios. Esses componentes contribuem para o padrão da ordenha independente de quem esteja fazendo a mesma.

Muita atenção quanto ao funcionamento e regulagem dos extratores automáticos de teteiras que devem ser constantemente acompanhados por técnico de ordenha para que faça os ajustes necessários para seu bom funcionamento. Os extratores deverão retirar as teteiras no momento certo para evitar a sobre ordenha. Esse fenômeno sobre ordenha deverá sempre ser evitado devido as consequências que geram ao animal.

O ponto de recolhimento dos conjuntos de ordenha são relatados em vários trabalhos, mas uma técnica simples de avaliação da ordenha é repassar o animal após o conjunto de ordenha ter sido retirado. Se o volume total de leite após a retirada do conjunto de ordenha for menor que 250 ml no úbere, é um indicativo de uma ordenha completa. Há, também, casos de ordenha não uniforme, tendo alguns tetos com mais leite que outro, por isso a importância do acompanhamento técnico do equipamento de ordenha e atualização da configuração de acordo com desenvolvimento do rebanho.

Ao retirar os conjuntos de ordenha nossa ação deverá ser de mergulhar o teto em uma solução protetora pós ordenha (Posdip) onde a meta é cobrir a superfície do teto entre 75 a 90% de sua conformidade. O que ocorre durante a ordenha é um movimento de vai e vem do leite no equipamento durante o processo, que banha o teto com leite. Essa é umas das principais razões para aplicação do Posdip, para retirar esse filme de leite do entorno do teto após a retirada dos conjuntos de ordenha e assim evitar a proliferação bacteriana. É indicada especial atenção para quem trabalha com cama de compostagem.

Uma forma de avaliação rápida e eficaz das rotinas de ordenhas numa fazenda de leite é verificar após a ordenha os filtros de leite do equipamento de ordenha;

• Filtros de Leite sujos: tetos não foram limpos corretamente
• Filtros de leite com grumos: sinal que alguma mamite clinica passou sem a devida atenção
• Filtros de leite com estratos e sujidades: muitas quedas de teteira, alinhamento pobre dos conjuntos e/ou limpeza incompleta dos tetos.

Portanto, uma vez analisado o programa de rotina de ordenha, essa deverá ser desenvolvida, implementada, impressa e posteriormente deverá ser entregue uma cópia a cada um dos envolvidos no processo. Outra excelente prática é anexar no fosso na sala de ordenha a rotina de ordenha, assim facilitando sua memorização. Reunir o pessoal e debater com os mesmos sobre o desafio de implementar as rotinas e escutar suas sugestões mantendo todo mundo engajado também pode ser considerado um dos segredos do sucesso da qualidade do leite.

Boa rotina de ordenha é a chave fundamental para a produção de leite com qualidade, se for implementada qualquer fazenda de leite poderá:

• Ordenhar mais rápido
• Produzir mais leite
• Melhorar a qualidade do leite
• Produzir um leite mais rentável

Lissandro Stefanello Mioso
Médico Veterinário – CRMV 8457
Consultor Técnico
Extraído de artigo publicado National Council Annual Meeting – Reno – Nevada (2000) Pag-123

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