[:br]Manutenção do equipamento de ordenha na qualidade do leite e controle da mastite bovina

Os equipamentos de ordenha influenciam a qualidade do leite devido à sua higienização e participam na ocorrência e controle da mastite bovina, dependendo de seu bom ou mau funcionamento. Para uma boa qualidade de ordenha, cada fator envolvido no processo (produção de vácuo, regulagem de vácuo, reservas, pulsação, movimento de teteiras, etc.) deve funcionar harmonicamente, atendendo a limites e valores ideais de operação. Para contar com ela sempre em boa condição de uso, deve-se mantê-la sempre nova. A manutenção é fundamental!

Para manter o equipamento de ordenha sempre em ótima condição, é preciso estabelecer programas de manutenção periódica e avaliações realizadas por técnicos qualificados. Mas, alguns aspectos do desempenho do sistema de ordenha podem ser avaliados sem nenhum equipamento de teste específico por qualquer um que tenha habilidades de observação e análise. A intenção é ajudar na identificação de possíveis causas de problemas no equipamento de ordenha que estão ocasionando mastite, problemas de teto e ordenha lenta ou incompleta, e solucioná-las rapidamente, sendo necessário ou não o auxilio de técnicos qualificados.

• Checagem do equipamento de ordenha

-Teteiras e Insufladores:

Os insufladores das teteiras devem estar em boas condições, sem sinais de desgastes, como rachaduras e alterações na superfície da boca ou do interior. A deterioração da boca, usualmente, resulta em aumento de entradas de ar e deslizamento de teteiras. A dilatação do corpo das teteiras pode causar aumento de leite residual e, possivelmente, contagem de células somáticas mais altas em quartos afetados subclinicamente. Um aumento de volume e a distorção dos insufladores é um indicativo de que foram usados por mais tempo do que permitia sua vida útil.

O design das teteiras deve se enquadrar a maioria dos tetos do rebanho. As características das teteiras que devemos estar atentos são:

– Ter diâmetro cerca de 1 ou 2mm menor que o diâmetro médio dos tetos após a descida do leite. A teteira deve ser longa o suficiente para colapsar totalmente abaixo do teto. Se o teto penetra muito fundo, as teteiras não são capazes de colapsar e a pulsação é falha. Teteiras novas reduzem problemas de congestão e edema.

O tamanho mínimo das teteiras de borracha sintética ou natural deve ser:

– 130mm para teteiras de até 20mm de diâmetro;

– 135mm para diâmetro 21-22mm;

– 140mm para teteiras de 23-24mm.

– Ser projetada para se ajustar às armações dos copos da teteira. O copo não deve torcer o bocal e o insuflador deve estar firme o suficiente para não girar facilmente na armação. O comprimento dessa armação deve ser compatível com o comprimento do insuflador para que ambos sejam conectados sob a tensão correta;

– Partes de borrachas e filtros do equipamento:

Todos os componentes de borracha do sistema de ordenha se deterioram com o tempo (Figura 1). Mangueiras ou outras partes de borracha com superfícies rachadas ou ásperas são impossíveis de se limpar. Quando deformadas, aumentam as perdas por atrito e podem afetar os níveis de vácuo de ordenha.

Os filtros de ar instalados no equipamento devem ser checados periodicamente para ter certeza de que não estão entupidos ou sujos, e devem ser substituídos periodicamente. É recomendável:

– Substituir as partes de borracha como mangueiras curtas e longas do leite a cada 6 meses;
– Limpar o filtro do regulador de vácuo a cada 250 horas ou mensalmente;
– Substituir o filtro de ar a cada 3000 horas ou anualmente.

As teteiras têm a menor vida útil dentro do sistema. Geralmente devem ser substituídas a cada 2500 ordenhas:

Período de troca de teteira =______2500______
(a x b/c)

Onde:
a = Nº de vacas ordenhadas por dia
b = nº de ordenhas por dia
c = nº de unidades de ordenha do equipamento

O design e a condição das teteiras têm um grande efeito nas características da ordenha. Se há diferença significativa na ordenha, tanto na velocidade quanto no volume de leite extraído, quando as teteiras são substituídas, é sinal de que foram usadas por tempo demasiado!

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Figura 1: equipamento necessitando de troca

 

– Copos coletores:

Observe a condição das entradas de ar dos copos coletores ou insufladores. A entrada de ar do copo coletor deveria estar limpa e desbloqueada. Essa entrada varia de 0,8 a 1,2 mm de diâmetro e admite de 7 a 12 l/min de ar. Entradas de ar parcial ou totalmente bloqueadas reduzem o vácuo no coletor, aumentam as flutuações de vácuo e as inundações no coletor, os deslizamentos de teteiras e o tempo de ordenha por vaca. Excessiva admissão de ar (mais que 12 L/min) também tende a reduzir o nível e aumentar flutuações de vácuo no coletor. As unidades de ordenha devem ter entradas de ar no coletor ou nos copos de teteiras, não em ambos. Coletores de maior volume tendem a reduzir o potencial de contaminação cruzada.

– Linha do leite:

A linha do leite deveria estar inclinada em direção a unidade final com um mínimo de queda de 0,8%, e preferivelmente acima de 1,25%. É muito importante manter uma adequada inclinação da linha de leite próximo a unidade final e em áreas do sistema com curvas e conexões. As entradas de leite deveriam estar inseridas na metade superior da linha de leite. A linha de leite deve ser instalada o mais perto possível dos úberes e nunca a mais de 1,90m acima do piso onde a vaca é ordenhada.

– Sistema de pulsação:

O sistema de pulsação permite a execução das fases de massagem e extração de leite (Figura 2). Tem como objetivo evitar a congestão e o edema devidos à aplicação de vácuo na extremidade do teto. Quando há vácuo na câmara, a teteira abre e ocorre a extração do leite, e quando há presença de ar, a teteira colapsa, massageando o teto. O funcionamento dos pulsadores está associado à velocidade de ordenha e ao risco da ocorrência de lesões de tetos.

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Figura 2: Fases do sistema de pulsação

A relação de pulsação, ou seja, entre as fases (A+B) / (C+D) deve ser de 60:40 a 70:30. Quanto mais ampla a relação, maior a velocidade de ordenha, mas o risco de lesões de teto e esfíncter é maior. A taxa de pulsação (número de ciclos que ocorre por minuto) deve situar-se o mais próximo possível de 60, repetir-se diariamente e não pode variar mais do que três ciclos por minuto de uma unidade para outra. A relação de pulsação não deve variar mais do que 5 % das especificações dos fabricantes ou de um pulsador para outro. A fase B (extração efetiva) da pulsação deve representar pelo menos 30% de um ciclo. A fase D (massagem efetiva) não deve ser menor do que 15%.

– Pulsador:

Verifique a uniformidade entre os pulsadores ouvindo atentamente cada um deles. O som do ar entrando no pulsador deve ser regular e intermitente. Cubra parcialmente a entrada de ar do pulsador com o dedo. Um chiado contínuo indica vazamento (geralmente, sujeira) sob o assento da válvula do pulsador. Se houver sistema de filtração de ar, cheque se o filtro de ar está limpo. Olhe dentro das teteiras para se certificar de que não estejam torcidas dentro dos copos. Sinta se todas as teteiras estão ao menos abrindo e fechando totalmente em um ciclo de pulsação: abra a válvula de fechamento de vácuo e insira o polegar em cada teteira.

– Nível e regulador de vácuo:

Cheque o vácuo em funcionamento e a leitura no medidor de vácuo da fazenda (Figura 3). Frequentemente, os vacuômetros de fazendas estão quebrados ou imprecisos. Às vezes o ponteiro se prende e não acusa mais do que 50 KPa para indicar alto vácuo de trabalho se o regulador falhar. Bata no vidro do vacuômetro para checar se o ponteiro está preso. Certifique-se de que seu técnico de serviço checa o vacuômetro como parte da rotina de checagem do equipamento.

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Figura 3: Cheque se o vacuômetro está funcionando

Ouça o som do ar entrando pelo regulador quando a bomba de vácuo está funcionando, mas todos os conjuntos de ordenha estão desligados. Abra conjuntos de leite suficientes para que o ar admitido possa reduzir o nível de vácuo em torno de 3kPa. Isto estimularia o regulador de vácuo a fechar causando uma redução considerável no ruído causado pelo ar entrando no mesmo. Cheque a queda de vácuo quando uma unidade for aberta. Para equipamentos com mais de 32 unidades, abra 2 unidades. Uma queda no vácuo menor que 2 KPa durante esse teste de queda indica que o sistema de regulagem de vácuo está respondendo e que a capacidade de reserva de vácuo do sistema é provavelmente suficiente. Se o regulador aparentemente não fecha, cheque seu filtro e limpe-o se necessário. Se a limpeza não melhorar a sensibilidade do regulador, chame então o técnico do seu equipamento de ordenha.

O nível de vácuo alto pode levar a lesões nos tetos, congestão e edema dos mesmos, reduzindo a velocidade de ordenha; e aumento do leite residual devido à subida das teteiras, que causa o estrangulamento do teto bloqueando a passagem do leite.

O baixo nível de vácuo pode causar deslizamento e queda das teteiras e ordenha lenta.

• Impacto de problemas relacionados ao equipamento na ocorrência da mastite Deslizamento de teteiras

Quando ocorre o deslizamento e queda de teteiras e rápidas introduções de ar na unidade de ordenha, há flutuação de vácuo. O fluxo normal do leite é invertido e pequenas gotículas podem ser introduzidas no teto, podendo levar bactérias de um teto contaminado para outro sadio, levando ao aparecimento de novas infecções. Essas flutuações ocorrem por causa da capacidade insuficiente da bomba de vácuo e problemas no regulador de vácuo.

Observe o número de vezes em que os conjuntos devem ser ajustados pelos ordenhadores devido a deslizamentos ou quedas. Uma boa meta é ter menos que 5% das vacas ordenhadas necessitando de correção pelos ordenhadores.

Causas: Unidades de ordenha pesadas, distribuição desigual de peso na unidade de ordenha ou orifícios de admissão de ar bloqueados.

Note o estágio da ordenha em que as quedas mais ocorrem. Unidades de ordenha ou linhas de leite inundadas tendem a causar deslizamento ou queda no início da ordenha. Design precário das teteiras ou distribuição desigual de peso na unidade de ordenha são as causas mais comuns de deslizamento e queda no final da ordenha.

Condição dos tetos logo após a ordenha

Tetos edemaciados, endurecidos ou azulados/arroxeados podem ser resultado de sobreordenha, vácuo excessivo, teteiras endurecidas ou montadas sob desnecessária alta tensão e falhas nos pulsadores. Anéis pronunciados na parte superior dos tetos podem resultar de sobreordenha ou do uso de teteiras com lábios duros ou com vácuo alto. Lesões na ponta do teto (figura 4) podem ocorrer devido ao alto nível de vácuo, à sobreordenha e ao inadequado funcionamento no sistema de pulsação. Essas lesões facilitam a colonização da extremidade do teto por bactérias, podendo resultar em novas infecções.

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Figura 4: lesões na ponta do teto – porta de entrada para bactérias

Ordenha completa da vaca

Para determinar se a ordenha foi completa, cheque uma amostra representativa de vacas (pelo menos 30 vacas ou ¼ do rebanho, o que for maior) pelo repasse manual. Quando mais de 20% dos quartos produzirem mais de 100 ml de leite quando repassados (manualmente) é sinal de que ocorreu sub-ordenha.

Causas da ordenha incompleta: Tipo ou condição precária das teteiras; conexão inadequada entre o niple da entrada do coletor e o tubo curto de leite (fechamento parcial do tubo curto de leite no ponto em que se une ao coletor); unidade de ordenha muito leve; unidades de ordenha não se ajustam uniformemente ao úbere porque os tubos de conexão são muito longos ou muito curtos; teteiras torcidas dentro dos copos; conexão inadequada entre teteiras e copo; nível de vácuo de ordenha muito alto.

Sabe-se que o bom funcionamento de um equipamento de ordenha depende da correta escolha da máquina, do seu dimensionamento, instalação, regulagem e manutenção. É possível identificar falhas no funcionamento de equipamentos de ordenha ou no manejo através de observações atentas e testes simples. Portanto, o ordenhador, o gerente da fazenda, o responsável técnico e o produtor de leite podem participar ativamente da manutenção do equipamento de ordenha, o que pode contribuir para seu melhor resultado na atividade, seja ela ordenhar vacas, gerenciar fazendas, orientar produtores ou produzir leite!

Conclusão

Revisões periódicas de todo o equipamento de ordenha devem ser realizadas para assegurar o adequado funcionamento do mesmo. Troca de teteiras, borrachas, mangueiras e lubrificação de bombas são de fundamental importância para o controle da mastite e obtenção de leite de elevado padrão de qualidade. Um profissional capacitado deve ser contratado para a realização periódica da revisão. Algumas tarefas de manutenção do equipamento de ordenha podem ser realizadas por funcionário da propriedade que esteja treinado e capacitado para atividade:

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Adaptada Santos e Fonseca, 2007

Escrito em 11/01/2010 por Patrícia Vieira Maia – médica veterinária, especialista em pecuária leiteira, in

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