Estimativas de prejuízos causados por doenças nos rebanhos leiteiros dependem de diferentes variáveis externas (preço e programas de bonificação do preço do leite) e internas da fazenda (dias em lactação-DEL, número de lactações, custo de reposição).
De forma geral, o total das perdas associadas com a doença pode ser dividido em dois grandes grupos.
No primeiro, estão as perdas ou custos indiretos, que ocorrem quando há redução da receita por perda de produção de leite ou pelo não recebimento de um benefício (p.ex., perda de bonificação pela alta CCS do leite, risco aumentado de outras doenças).
No segundo grupo, temos os custos diretos, que estão diretamente associados com a ocorrência da mastite, como os custos de tratamento, descarte do leite, morte, entre outros. É consenso da maioria dos estudos que as perdas de produção de leite causadas pela mastite subclínica são o principal componente do custo total da mastite nas fazendas leiteiras, sendo que a CCS individual e do tanque são as principais ferramentas de avaliação destas perdas.
A principal explicação para a relação entre CCS e a redução da produção de leite baseia-se na redução da capacidade de produção quando as vacas apresentam um ou mais quartos mamários com mastite.
Assim, vários estudos estimaram as perdas de produção de leite individuais de acordo com a CCS, levando-se em consideração os DEL e o número de lactações, no entanto para calcular o total de perdas por rebanho há a necessidade de estimar a somatória de perdas individuais e a duração do tempo que cada vaca permaneceu com alta CCS.
Quando a fazenda consegue fazer boas estimativas das perdas causadas pela mastite, pode-se ter melhores definições sobre a necessidade de medidas de controle, estimativa de custo:benefíco ou se medidas já implantadas tiveram a resposta esperada. Além disso, deve-se destacar que não é realista esperar que todas as perdas de produção de leite podem ser eliminadas, principalmente quando a CCS média do rebanho atinge < 100.000 células/ml, que é considerado um limite abaixo do qual as perdas são pouco significativas.
Os resultados de um estudo canadense auxiliam a estimar as perdas de produção de leite quando as fazendas apresentam redução da CCS, p.e., quando ocorre redução do percentual de vacas com CCS>200.000 células/ml.
Este estudo foi baseado em banco de dados com mais de um milhão de vacas sob controle leiteiro de Ontario, Canadá, obtidos durante 10 anos (2009-2019) a partir de 3740 fazendas. O total de dados individuais ultrapassou 18 milhões de observações de produção de leite, CCS, composição, e informações da vaca (DEL e número de lactações, parto, secagem, duração da lactação) e da fazenda.
As estimativas de perdas de produção incluídas nas modelos estatísticos levaram em consideração o efeito da CCS, do DEL, da estação do ano e do rebanho. Foi considerado que vacas com <100.000 células/ml não apresentaram perdas significativas de produção de leite.
Tabela 1. Perdas individuais de produção de leite (kg/vaca/d) por CCS e número de lactação, Fonte: Chen et al., 2021.
Figura 1 – Perdas individuais de produção de leite (kg/vaca/d) por CCS e número de lactação, Fonte: Chen et al., 2021
Os dados da tabela e figura 1 detalham as perdas individuais de produção. Por exemplo, para as primíparas as perdas variam de 0,42 (200.000 céls/ml) até 1,81 kg/d (2.000.000 céls/ml), o que representa redução de 1,5% a 6,0% em comparação com vacas com CCS de 100.000 céls/ml. Por outro lado, vacas de 2ª e 3ª lactações apresentam perdas similares, com redução variando de 2,5% a 9,0%.
Os resultados das estimativas de perdas médias de produção de leite por fazenda, distribuídas de acordo com a CCS do tanque estão apresentadas na figura 2, indicando que existe uma significativa relação entre CCS do tanque e perdas médias de produção de leite. No entanto, os pesquisadores destacam que mesmo apresentaram um alto coeficiente de correlação (R2 ajust = 0,99), a melhor estimativa de perdas de produção de fazendas é baseada no cálculo do somatório das perdas individuais das vacas (figura 1) e não por meio do uso de uma equação que estima a perda média (conforme apresentado na figura 2).
Desta forma, os resultados indicam que a melhor estimativa de perda de produção total não deve ser baseada em dados médias da CCS do tanque, uma vez que a perda total depende do somatório das perdas individuais das vacas, as quais variam de acordo com o número de lactação e duração dos casos de mastite.
Figura 2. Perdas médias de produção de leite por fazenda, de acordo com a CCS do tanque, Fonte: Chen et al., 2021.
Fonte: Chen, et al, 2021, J. Dairy Sci. 104:7919–7931
Fonte: https://www.milkpoint.com.br/
Escrita por POR MARCOS VEIGA SANTOS